Momentos
Momentos. Há momentos em que começo a escrever, assim, do nada. Sem preparação. Sem um roteiro determinado. Apenas escrevo. Há momentos em que consigo fazer isso.
Há momentos em que não consigo me concentrar muito tempo em uma coisa só, fico querendo fazer tudo ao mesmo tempo. E ai acabo não fazendo nada. Tudo me desconcentra. A tv me desconcentra. A internet me desconcentra. O som tocando alto no computador me desconcentra. Os livros espalhados na cama disputando espaço com um joystick de playstation, uma revista Superinteressante aberta numa página que fala de Gadgets de tablets que também me desconcentram, um texto de alguém em um blog, um barulho de chamada no msn, o telefone que toca, essas coisas me desconcentram. E há momentos em que isso acontece o tempo todo. Mas há momentos que não.
Há momentos em que paro só para olhar o porquinho da índia mastigando pequenas folhas de capim na gaiola. Incrível como aquilo me faz ficar imóvel. Só olhando. Esperando ele roer de uma ponta a outra a folha. Uma coisa simples, tão ínfima. Há momentos em que me concentro até demais.
Há muitos momentos em que passo horas juntando frases na cabeça, mas não consigo gastar um momento sequer escrevendo uma frase que seja. Há momentos em que não quero escrever nada, e em outros fico fugindo de um ponto final.
Há momentos em que não quero ver ninguém, planejo passar uma semana trancado em casa, só comigo e os meus momentos. Mas esses momentos não duram muito, acabo saindo de casa para ver pessoas que eu nunca vi em nenhum momento da minha vida.
Mas esses momentos não são meus. São seus. São bons momentos. E são apenas isso, momentos. E então nesses momentos eu não ligo.
Há poucos momentos em que me arrependo, e dos que me lembro, logo esqueço. Há sempre momentos em que me orgulho. Não que eu seja um esnobe. Mas é que quando vejo tanta gente parada, percebo que neste momento eu estou quase lá.
Há momentos em que acordo, olho pro teto e me pergunto "quem sou eu agora?". Quem sou eu hoje? Tem momentos que demoro um pouco pra decidir isso. Momentos em que sou tantos "eus" que tropeço na hora de dizer meu nome. Eu sou... Eu sou... Eu apenas sou. Faz tempo que descobri que consigo me dividir. Quando quero, me separo de mim mesmo, sou capaz de ir do riso ao choro, da pureza ao pecado, do branco ao preto, do yn ao yang, assim, num piscar de olhos. E isso eu consigo fazer a todo momento.
Há momentos em que sou amigo. Há momentos em que sou amante. Há momentos em que sou seu médico. Há momentos em que sou seu conselheiro. Há momentos em que sou seu contador. Há momentos em que sou seu vício, e esses momentos sim, duram bastante. Há momentos em posso até ser seu advogado, e já ganhei até causa. Há momentos em que sou um menino. E há momentos em que sou homem. Há momentos em que você vai acreditar em mim, e em outros momentos jamais saberá quem eu sou. Pode haver um momento em que vai se apaixonar. Mas vai ter sempre o momento em que vou partir o seu coração.
Há momentos em que sou bom. E outros em que eu só faço mal. Sei de momentos em que minhas palavras machucaram você. Mas acho que ouvi dizer que elas te curaram quando você precisou.
Há momentos em que me perco enquanto escrevo.
Há momentos em que vocês esperam ler putaria escondida nas frases. Aliás, vocês sempre esperam isso. E há momentos em que até escrevo uma sacanagem ou outra.
Há momentos em que um simples momento é capaz de mudar a sua vida. Um beijo. Um texto. Uma gozada. Uma risada. Para mim, a vida muda a cada novo momento, basta você aproveitar ele.
Aproveite cada momento, pois ele não dura. Há momentos em que repito isso pra mim o tempo todo. Porque eu sou um cara de momentos, e a todo momento novos momentos vem e vão, e quem estará neles? Você? Eu? Eu? Eu? Eu? Eu? Eu? Eu? Eu?
Há momentos em que isso não importa. Porque a verdade é muito simples. Apenas há momentos, e nada mais.
